Abstract
Resumo: Leitura de “Para mascar com chiclets”, de João Cabral de Melo Neto (1998), este ensaio explora as complexidades sintáticas e figurativas do poema, tomando como ponto de partida as tensões entre a aposta anti-ilusionista da poesia moderna e as intimações antropomórficas e alucinatórias da tradição lírica ocidental. Ato contínuo, ao destacar a sutil trama de interrupções que atravessa os versos, tenta-se mostrar como, neste poema, o senso de uma clivagem insuperável separando homem e tempo se dá ver menos como enunciado explícito do que como uma estranha solução de compromisso entre resistência e abstração, prosaico e sublime, na qual o mergulho obsessivo e mecânico na pura repetição torna-se o atalho inesperado para um bizarro ritual autodestitutivo. Palavras-chave: João Cabral de Melo Neto; lírica; antropomorfismo; tropo. Abstract: A reading of João Cabral de Melo Neto’s (1998) “Para mascar com chiclets”, this essay explores the syntactic and figurative complexities of the poem, taking as a point of departure the tensions between the anti-illusionistic commitment of modern poetry and the anthropomorphic and hallucinatory intimations of western lyric tradition. Furthermore, by enhancing the subtle net of disruptions which pervades the verses, one tries to show how, in this poem, the sense of an unsurpassable cleavage separating Man and Time is enacted less as an explicit statement than as frail compromise solution between resistance and abstraction, prosaic and sublime, in which a mechanical and obsessive plunge into pure repetition becomes an unexpected gateway to a weird ritual of self-destitution. Keywords: João Cabral de Melo Neto; lyric; antropomorphism; trope.