Efeitos de uma pandemia numa unidade de cuidados de saúde primários e sua população: um estudo retrospetivo

Abstract
Objetivos: A COVID-19 é a primeira pandemia severa do mundo moderno, tendo já colapsado diversos sistemas de saúde, obrigando-os a adaptar-se. Este artigo pretende analisar a atividade médica numa unidade de cuidados primários durante o primeiro pico da pandemia, de modo a avaliar os impactos desta no acompanhamento clínico da população. Métodos: Estudo retrospetivo que analisou os dados de todas as consultas efetuadas numa unidade de cuidados primários entre 1 de março e 31 de julho de 2020 e em período homólogo de 2019 e 2018. Resultados: Em 2020 registou-se um aumento de consultas quando comparado com igual período de 2019 e 2018 (14.871, 14.326 e 12.996, respetivamente), sendo a maioria não presencial, ao contrário de anos anteriores (71,6% em 2020, 42,6% em 2019 e 35,2% em 2018). Verificou-se também uma diminuição da maioria das consultas de vigilância e de rotina (2.562 em 2020, 3.067 em 2019 e 2.975 em 2018) e um aumento das consultas por patologia psiquiátrica, destacando-se a ansiedade (362 em 2020, 252 em 2019 e 238 em 2018). Conclusões: Apesar da pandemia, o número total de consultas aumentou em 2020, embora à custa de consultas não presenciais e com uma diferente prevalência de diagnósticos. Ocorreram menos consultas de vigilância e aumentaram as consultas por patologia psiquiátrica, possivelmente decorrentes do impacto socioeconómico da pandemia. Trata-se da primeira casuística da atividade médica de cuidados primários registada durante a primeira vaga da pandemia em Portugal.