O exame Celpe-Bras e o ensino de português em um curso para candidatos ao PEC-G: mecanismo de política linguística em ação

Abstract
O objetivo do artigo é discutir como o exame Celpe-Bras atua como mecanismo de política linguística para professoras de um curso de português para candidatos ao Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G). A noção teórica de mecanismos de política linguística de Shohamy (2006; 2007; 2009) embasa a discussão dos dados gerados em entrevistas semiestruturadas. A análise da materialidade textual baseou-se na análise do conteúdo temático, da seleção lexical e dos elementos argumentativos segundo Koch (2000; 2011). A conclusão é que o Celpe-Bras atua como mecanismo de política linguística para as professoras ao transformar ideologias em práticas de ensino do que (conteúdo) e como (metodologia) ensinar. Especificamente, o exame atua sobre três eixos da prática docente: no planejamento de aulas, na metodologia de ministração de aulas e na avaliação de produções textuais dos alunos. A política linguística oficial do PEC-G estabelece o Celpe-Bras como requisito para o ingresso em Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras, mas não dispõe sobre currículo, formação de professores, material didático ou outros aspectos do ensino. Há prerrogativas e encargos decorrentes da atuação em contexto pautado por um exame de alta relevância, como é o Celpe-Bras para os participantes. Os programas de ensino e os próprios professores gozam de um alto grau de liberdade para criar políticas linguísticas locais visando a endereçar os pontos não cobertos por disposições oficiais ou superiores. Ao mesmo tempo, devem lidar com um possível clima de conflito emergente entre diversas ideologias e práticas quanto ao exame, decorrente da própria liberdade de criação de políticas linguísticas locais responsivas ao contexto.