Abstract
Este artigo busca refletir sobre uma das premissas gerais que são indispensáveis para quem pretende valer-se da persuasão no discurso, conhecida como lugares da pessoa. Esses lugares dão preferência à pessoa, que é ressaltada sobre as coisas. Para isso, tomam-se aqui para análise alguns discursos sobre a pandemia instaurada no mundo pelo coronavírus, a Covid-19. Como corpus de estudo deste artigo, em termos metodológicos, levam-se em conta duas capas do jornal O Globo, do Rio de Janeiro, especificamente as edições que registram quando o Brasil ultrapassou as 10 mil mortes (publicada em 10 de maio de 2020) e as 100 mil mortes (edição de 9 de agosto de 2020) pelo vírus. O objetivo é mostrar de que modo a valorização ao ser humano funciona, nos discursos sobre a Covid-19, como um argumento eficiente com forte apelo persuasivo, capaz de mover o auditório, suscitando ou realçando dignidade, mérito e respeito. A reflexão é fundamentada nos pressupostos da Retórica clássica (Aristóteles, 1983, 2011), campo no qual os lugares tiveram origem, e da Nova Retórica (Perelman & Olbrechts-Tyteca, 1996), especificamente no que diz respeito aos lugares da pessoa.