Abstract
O livro Caderno de Memórias Coloniais, de Isabela Figueiredo, é composto por uma escrita de cunho memorialista e aborda a trajetória de construção da identidade da narradora-personagem ao longo de sua vida, primeiro durante a colonização portuguesa em Moçambique e depois durante o retorno para Portugal, posteriormente à Revolução de 25 de Abril de 1974. Essa produção de subjetividade se dá a partir da relação com a família, com o grupo, com a nação e com o diferente, mas também de acordo com os seus desejos e ânsias, com suas experiências frente ao espaço físico e humano e frente a contingências sócio-históricas vivenciadas durante o seu percurso. O objetivo desse ensaio é relacionar memória e construção discursiva da identidade a partir do romance Caderno de Memórias Coloniais, de Isabela Figueiredo. Com isso, o ensaio pretende destacar a componente narrativa dos diferentes graus de identificação familiar, grupal e nacional envolvidos na produção de uma subjetividade individual, explicitando a ruptura geracional com os ideais salazaristas que caracteriza a identidade portuguesa na contemporaneidade. Nesse sentido, além de tecer considerações sobre as dinâmicas de identificações e desidentificações que resultam na caracterização da produção da identidade individual como um processo dinâmico e sempre em transformação, o artigo pretende situar o romance dentro das tendências contemporâneas da literatura portuguesa e tecer considerações sobre as configurações atuais de uma identidade nacional, cujo acerto de contas com o passado colonial ainda se faz necessário.