Ocorrência de hepatites virais, helmintíases e protozooses em primatas neotropicais procedentes de criação domiciliar: afecções de transmissão fecal-oral com potencial zoonótico

Abstract
A criação de primatas não humanos em domicilio não é permitida pela legislação ambiental. Entretanto, na Região Amazônica é comum encontrar primatas não humanos convivendo em ambientes familiares. Essa interface favorece a transmissão de doenças de caráter zoonótico. Esta pesquisa se propôs avaliara presença de alguns agentes zoonóticos em primatas não humanos de criação domiciliar. Foram investigados animais doados ou apreendidos pelo Batalhão de Policiamento Ambiental e/ou Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis no Estado do Pará e encaminhados ao Centro Nacional de Primatas. Durante a quarentena, 25 animais foram submetidos a colheitas de sangue para a obtenção de soro e pesquisa de anticorpos para hepatites virais (tipos A, B e E), realizada no Instituto Evandro Chagas. A análise parasitológica fecal foi realizada em 29 animais, sendo utilizados os métodos de Willis, Hoffman e exame direto. Nenhum dos animais apresentou anticorpos positivos para anti-HBV e anti-HEV; entretanto, 12% dos animais apresentaram positividade para anticorpos anti-HAV totais. Os estudos parasitológicos demonstraram que 48,2% apresentavam algum tipo de parasita com potencial zoonótico, ocorrendo Strongyloides stercoralis em 17,2% casos, sendo que em 3,4% dos casos este parasita estava associado à Giardia lamblia. Isoladamente, Giardia lamblia e Entamoeba histolytica ocorreram, respectivamente, em 3,4% e 10,3% dos casos estudados. Os patógenos descritos nesse estudo são de veiculação fecal-oral. Portanto, concluiu-se que a relação domiciliar de primatas não humanos com o homem não é recomendável e deve ser encarada como problema de saúde pública.