Abstract
Resumo: O artigo compara Asfalto selvagem ao romance brasileiro anterior e contemporâneo à sua publicação, para compreender a pouca atenção da crítica literária à produção romanesca de Nelson Rodrigues. Especificamente, compara-se a construção da moralidade naquela obra com o que predominava no “romance de 30”, aqui analisado em duas obras representativas: a “Tragédia burguesa”, de Octávio de Faria, e Capitães da areia, de Jorge Amado. Enquanto lá despontava uma moralidade normativa e dualista, encenando duas visões em conflito para estabelecer a visão “correta” a servir de orientação moral para o leitor, em Rodrigues não se identifica tal moralização ostensiva, e sim a disposição de elementos textuais que deixam as inferências morais a encargo do leitor. Mediante o conceito de affordances éticas de Webb Keane, analisa-se como as racionalizações e justificações das personagens configuram uma representação aporética da moralidade e um padrão “neurótico” de comportamento, novamente em contraste com o romance brasileiro entre as décadas de 1930 e 1970. Ao final, propõe-se que quatro características do romance de Rodrigues explicam sua pequena fortuna crítica: o humor na encenação do “pecado”; a recusa do ativismo moral e político; a ausência da temática nacional (i.e. da interpretação do Brasil como sociedade, história e cultura); a crítica moral aporética, que não reconhecia a religião, a família, o Estado, a ideologia política ou a ética do trabalho como fontes de autoridade. Palavras-chave: Nelson Rodrigues; moralidade; “romance de 30”; teoria das affordances; história do romance brasileiro. Abstract: We compare Asfalto selvagem to the contemporary and the immediately preceding novelistic production in Brazil, in an attempt to understand why Nelson Rodrigues’s novels have received little attention from our literary critique. More specifically, we compare his approach to morality with what prevailed in the “1930s novel”, here analyzed in two representative works: Octávio de Faria’s “Bourgeois tragedy” and Jorge Amado’s Captains of the sand. While in the 1930s a normative and dualistic morality prevailed, with the staging of conflicts between two visions as a means to establish the “right views” as moral guides to the readers, in Rodrigues there is no such ostensive moralization, but the display of textual elements that suggest moral inferences to be made by the reader himself. Through Webb Keane’s concept of “ethical affordances” we analyze how the characters’ rationalizations and justifications also build a paradoxical representation of morality and a “neurotic” pattern of behavior, again in contrast with preceding and contemporary novels in Brazil. In the end, we suggest that four characteristics of Rodrigues’s novels might explain their small academic repercussion: the use of humor in the dramatization of “sin”; the refusal of moral and political activism; the absence of Brazil (as society, history and culture) as a dominant theme; a paradoxical moral perspective that did not recognize religion, family, the State, political ideologies or any work ethic as sources of authority. Keywords: Nelson Rodrigues; morality; “1930s novel” in Brazil; theory of affordances; history of Brazilian novel.

This publication has 2 references indexed in Scilit: