The “cancel culture”: contributions from a sociological perspective

Abstract
A vulgarização do termo “cancelamento”, sua utilização sem rigor algum para nomear situações distintas, sua apropriação como recurso para identificar qualquer tipo de crítica coletiva ao comportamento das celebridades nas redes sociais, fez com que alguns defendam a inexistência do “cancelamento” como fenômeno social sui generis, isto é, dotado de particularidades que o distinguem da mera crítica dirigida a outrem. Trata-se de um fenômeno contemporâneo, denominado de “linchamento virtual” por seus críticos, ou ativismo e radicalização da democracia por seus defensores, realizado por seus executores, aparentemente, com o intuito de problematizar condutas incompatíveis, na maioria dos casos, com os valores fundamentais da diversidade identitária, ou seja, expor, desconstruir e exigir que não sejam naturalizadas posturas racistas, machistas, homofóbicas, transfóbicas, dentre outras, que constituem preconceitos dominantes em uma sociedade desigual como a brasileira. Considerando ainda que, não se faz “cancelamento” de um sujeito sem que a execração pública seja difundida a todos os que quiserem saber a respeito dos fatos, uma vez que o objetivo do “cancelamento” é justamente reduzir ao mínimo o capital simbólico do sujeito “cancelado”, com consequências econômicas e profissionais, de modo que sirva de exemplo para dissuadir potenciais futuros infratores das normas éticas e morais dominantes, os efetivos “cancelamentos” pressupõem a participação de empresas ou de qualquer outro agente econômico e uma relação de dependência ou subordinação. Palavras-chave: “cancelamento”, entretenimento, dependência econômica, redes sociais, celebridades.