Tessituras referenciais na orientação argumentativa e temática: a (des)focalização na produção escrita de uma reportagem

Abstract
Em nossa concepção, língua e usuário/a de língua(gem) mantêm estreita relação entre si, na medida em que este/a mobiliza, em dado gênero discursivo, mecanismos sociocognitivos e linguístico-discursivos na produção de determinado texto, motivado/a por suas práticas socioculturais. Assim, o texto, sob as óticas sociointeracional, sociocognitiva e pragmática, congrega sujeitos, ao mesmo tempo, estratégicos/intencionais e sociais/(inter)acionais. Assumimos, neste artigo, que a escrita demanda a construção de uma tessitura referencial permeada pela progressão de objetos-de-discurso, o que implica, tanto no plano material quanto no plano discursivo do texto, a presença de um fio condutor responsável pela construção conjunta de sentidos e, por conseguinte, de argumentação (ainda que lato sensu). Diante desse conjunto de pressuposições, almejamos, à luz da linguística textual, de abordagem sociointeracional, sociocognitiva e pragmática, avaliar os efeitos decorrentes de processos de desfocalização de objetos-de-discurso, que compõem a tessitura referencial, na manutenção temática e na orientação argumentativa de uma reportagem produzida por uma estudante do 9º ano. Sob o guarda-chuva do paradigma qualitativo, nossa pesquisa, ao orientar-se por princípios etnográficos e discursivos, constituiu-se das seguintes etapas: (i) escolha do campo para a geração de dados; (ii) negociação com todos/as os/as atores/atrizes sociais para a realização da pesquisa; (iii) entrevista semiestruturada com a professora para discutir suas percepções relativas ao desempenho de suas turmas e ao ensino de língua portuguesa; e (iv) análise conjunta (colaboradora, pesquisadora e pesquisador) do texto da estudante. No curso da pesquisa, constatamos que a construção das tessituras referenciais da aluna atendeu plenamente a demandas da textualidade e do gênero discursivo. Esperamos que este trabalho inspire novos caminhos investigativos pelas tessituras referenciais e instigue, sobretudo, uma práxis de ensino que oportunize um/a usuário/a da língua(gem) sempre reflexivo/a acerca de suas escolhas linguístico-discursivas.