DALCÍDIO JURANDIR: Marajó não é o centro do mundo.

Abstract
Ao iniciar a produção e publicação do ciclo romanesco denominado Extremo Norte, com o romance Chove nos campos de Cachoeira, em 1941, o marajoara Dalcídio Jurandir (1909/1979) quebrou a protagonização da selva na literatura que figurava a Amazônia, o que poucos autores haviam realizado até então. Além de se utilizar de técnica inovadora, como a análise mental, o monólogo interior, Jurandir localiza a saga do menino Alfredo, afrodescendente, personagem central do ciclo, entre os anos vinte e trinta do século passado, com retrospectivas a dados e fatos anteriores a essa década. Chama a atenção, nessa primeira obra do ciclo, como nas demais, o número de textos citados, ou referidos, ou amalgamados ao enredo das obras. Esse entrecruzar de textos que perpassam o ciclo (composto de dez obras) demonstra o leitor Dalcídio Jurandir, que, antes de escritor, se iniciara jornalista e crítico literário para periódicos. Nosso propósito, neste texto é analisar o entrelaçamento da voz do crítico literário, com a voz do narrador e com a voz de personagens leitores, nos três primeiros romances do ciclo, a saber: Chove nos campos de Cachoeira (1941), Marajó (1947), Três casas e um rio (1958), para demonstrar que a obra de Dalcídio Jurandir, de forte conotação social, apesar de focalizar, nesses primeiros romances o espaço marajoara, amplia a percepção desse espaço ao leitor ao se abrir para a recepção de obras de diferentes gêneros e nacionalidades. Jurandir cita textos literários e textos da tradição oral para realçar o caráter romanesco de sua saga.