KANT E SECULARIZAÇÃO DA ESCATOLOGIA CRISTÃ

Abstract
O artigo pretende apontar as analogias e diferenças fundamentais entre a filosofia de Kant e a doutrina cristã (especialmente aquela formulada por Santo Agostinho) com relação à célebre discussão a respeito do mal e à visão escatológica da história humana. Sugere-se que a influência exercida pelo pensamento de Rousseau contribuiu para que as ideias kantianas se distinguissem da visão cristã tradicional, exprimindo a mudança na estrutura de fundo em que se manifesta o pensamento genuinamente moderno. Demonstra-se que a reflexão kantiana sobre o mal, bem como sua filosofia da história, são marcadas pela perspectiva da imanência, buscando no próprio homem a origem do mal e nutrindo uma esperança de redenção que nada tem de transcendente, mas realiza-se na história por meio da ação humana. O artigo conclui que, enquanto Agostinho, com sua ideia da “queda” e da consequente corrupção da natureza humana, ressalta a noção cristã de redenção, Kant traduz tal noção pela concepção secularizada da perfeição moral do homem, construída ao longo de um processo de aprendizado da razão, que confere à história humana o caráter de um crescente esclarecimento do conteúdo e da forma da lei moral.