Quando a religião (des)comunica a ciência: o catolicismo brasileiro e a pandemia de Covid-19

Abstract
Pretende-se com este artigo analisar as posições institucionais do catolicismo brasileiro durante a pandemia do novo coronavírus, a partir da ideia de uma “comunicação política” da ciência pela religião. Tomaremos como material de análise documentos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), decisões de algumas (arqui)dioceses e, como contraponto, as posições de movimentos católicos conservadores em questionamento às recomendações sanitárias e eclesiais. Assim, norteia-se pela seguinte questão: terá havido, neste momento, uma importante tensão entre a hierarquia, comprometida com a ciência, e parcela dos fiéis, quiçá mais próximos do negacionismo político em voga? A hipótese qualitativo-exploratória do artigo demonstra que o momento da pandemia acentuou, em termos de dissonância comunicativa, as linhas de tensão existentes na Igreja Católica e, à medida que a pandemia recrudesceu, a marcha institucional da hierarquia católica se deu em sentido oposto ao trilhado por líderes evangélicos, que demonstraram maior e mais coeso apoio às medidas e à comunicação do governo brasileiro. O artigo está embasado em método qualitativo, com foco na revisão parcial de produções bibliográficas atinentes à temática e mapeamento analítico dos principais posicionamentos oficiais propostos pelos segmentos católicos referidos.