“Existe uma tradição na arte negra? Pode um europeu apreciar arte negra?”: Wittgenstein sobre estética e preconceitos

Abstract
Em Aulas sobre Estética (1938), transcritas por seus alunos e publicadas posteriormente em volume intitulado Aulas e Conversas sobre Estética, Psicologia e Fé Religiosa, Wittgenstein tece considerações acerca da experiência estética a partir do esclarecimento de um conceito em particular, a apreciação, que é fundamental para a compreensão desse domínio específico da linguagem a que se propõe investigar – a linguagem estética. É nesse contexto que emergem duas perguntas feitas por seu aluno Rush Rhees que, referindo-se especificamente à arte negra, revelam-se ocasião oportuna para incluir, no debate estético, o problema do preconceito que pode existir na maneira com a qual o sujeito aprecia a produção artística de culturas diferentes da sua. Assim, como desdobramento da reflexão sobre o conceito de apreciação estética, que implica a necessidade de se levar em conta as regras do contexto da obra de arte para se emitir um juízo estético mais apurado, Wittgenstein responde a Rhees com o levantamento de uma série de elementos que permitem refletir sobre a questão do preconceito que acompanha, inclusive, o campo da estética. Com isso, a partir do pensamento wittgensteiniano, identifica-se a possibilidade de se esboçar uma resposta para um tema ainda latente na sociedade, à medida que propõe afastar preconceitos e superar a estreiteza de espírito que está por trás de concepções deturpadas a respeito de outras culturas, com o escopo de permitir, por sua vez, contemplar as diferenças de perspectivas e a riqueza que elas representam, em favor do exercício do respeito e da tolerância no que se refere à diversidade cultural.