Aquisição de leitura/escrita: uma interpretação discursivamente orientada da relação voluntário/automático

Abstract
Discutimos as particularidades do processo de aquisição de leitura e escrita do sujeito RM, em acompanhamento fonoaudiológico dos 8 aos 12 anos em virtude de queixas de dificuldades escolares, e as diferenças entre seu desempenho na escrita e na leitura, com base nos pressupostos teórico-metodológicos da Neurolinguística Discursiva, em especial, o conceito de palavra e a relação refletido/voluntário e irrefletido/automático apresentados por Freud em seu texto sobre as Afasias. A análise dos dados mostra que ao final do acompanhamento o sujeito apresentava um desempenho melhor na leitura do que na escrita - que passou a ser mais produtiva quando silenciosa -, diferente do que ocorria no início do processo; e que a sua escrita ainda apresenta problemas de ortografia, acentuação, pontuação e traçado de letra, embora, quando questionado, saiba soletrar as palavras corretamente. Esse aparente retrocesso da escrita de RM pode ser explicada por duas razões: (a) automatização não convencional da grafia de algumas palavras, em especial aquelas que usam as letras “b” e “d”; (b) registro de fatos e acontecimentos que exigem maior complexidade sintática, o que desvia sua atenção de como escrever para o quê escrever.