Abstract
As leituras tradicionais das relações entre egípcios e núbios durante o período do Reino Novo ressaltaram a superioridade das estruturas sociais egípcias e a imposição desta cultura sobre os povos núbios. Tais leituras incorporam uma perspectiva excessivamente herdeira do quadro mental do século XIX, que atribuía uma inferioridade cultural a sociedades da África Subsaariana. Uma análise mais detida do domínio imperial egípcio sobre a Núbia deve considerar, todavia, os conflitos internos inerentes a cada uma destas sociedades. Assim, o artigo busca demonstrar como o imperialismo faraônico tratou de estimular uma forte hierarquização social na Baixa Núbia para garantir a exploração de recursos e o fluxo de bens de prestígio necessários à manutenção do império. Este processo implicou a subsunção das formas produtivas locais aos padrões egípcios e à, consequente, expansão das relações sociais estatais características do Egito.