Abstract
O artigo pretende fazer ver até que ponto um certo Esclarecimento não é necessariamente um movimento de combate à religião estabelecida. Pode se revestir mesmo de um impulso para salvá-la, por mais que seu projeto não seja religioso, e sim humanista. Mais precisamente, o texto se propõe a mostrar de que modo salvar a religião de si mesma para emancipar a humanidade pela racionalidade e pela educação seria bem o projeto de Lessing, notadamente em Natã, o sábio. Para tanto, contextualiza-se o cenário intelectual alemão cotidiano à época do autor, cenário este pautado por escritos teológicos, não iluministas, passa-se pelas várias teologias existentes à época na Alemanha e também pelo modo como o próprio Esclarecimento assumia ali dimensão teológica, com Christian Wolff. A maioridade iluminista de Lessing é visitada mediante sua vocação plural, seu gosto pelas querelas e sua argumentação sem posições fixas ou demarcadas, assim como pelas noções de educação e de humanidade.