Paradoxos das políticas identitárias: (des)racialização como estratégia quilombista do comum

Abstract
Este artigo parte do pressuposto que as políticas identitárias serão necessárias até quando as desigualdades sociais estiverem relacionadas à algumas identidades. Contudo, a noção de identidade tem sido criticada ao longo dos anos pelo pensamento europeu que analisa o Estado Moderno Capitalista, em campos do saber como filosofia, psicologia e psicanálise. Este saber crítico foi importado colonialmente para o Brasil, fazendo com que as pautas identitárias dos movimentos sociais negros, muitas vezes, sejam desconsideradas por esses campos, posição confortável porque mantém o status quo da branquitude brasileira. Esse artigo apresenta algumas contribuições para a formulação de um sistema-mundo onde a raça não sustentará as desigualdades sociais. Para tanto, contraditoriamente será necessário racializar àqueles que se entendem modelo universal de humanidade. Por meio de revisão de literatura, discutimos a cosmologia do privado (com base nos mitos de origem europeus, com ênfase no mito do contrato-social e o mito do capital inicial), e apresentamos a proposta/resposta de sociedade individualista, acumulativa e egoísta forjada por essa cosmologia. Como revés a essa lógica de mundo, propomos uma cosmologia do comum (com base nos mitos Yorubás, em destaque a tríade Emì, Ofò, Asé) no combate do primado da razão colonial, enquanto perspectiva filosófica que preserva a espiritualidade e, acima de tudo, sustenta uma proposta política aquilombada de civilização.