O Indígena pelo olhar de Gonçalves Dias: uma representação multifacetada nas obras "Primeiros Cantos" e "Segundos Cantos"

Abstract
O presente artigo visa realizar uma análise histórica das obras “Primeiros Cantos” e “Segundos Cantos” do poeta maranhense Gonçalves Dias, estabelecendo um diálogo entre história e literatura, de modo a compreender seu olhar sobre o indígena, figura capital em sua poética. A análise dos poemas adota a teoria das representações de Roger Chartier, buscando apreender a complexa trama entre condições socioculturais de produção, a vida do poeta, a emergência do romantismo e as políticas indigenistas do século XIX. Nesse sentido, foi possível desvelar o retrato do indígena como um símbolo de força do império brasileiro, recém independente, bem como instrumento de crítica do projeto estatal de assimilação das populações indígenas enquanto cidadãos, o que permitiu oferecer um contraponto a certas interpretações da crítica literária que descartam a historicidade dos textos. Demonstra-se, além disso, os interesses do literato na sua busca por reconhecimento no campo da literatura nacional, o que lhe impeliu certas decisões durante a construção poética. Por último, perscruta-se, brevemente, a literatura contemporânea e posterior ao escritor, expondo a perenidade da sua concepção do indígena.