Da indignidade de falar pelos outros: conexões entre o diagrama das internações compulsórias e o dispositivo-drogas no contemporâneo

Abstract
Este artigo visa discutir e problematizar a prática das internações compulsórias, buscando explorar a realidade da experiência vivida por essas pessoas, dando a vê-la a partir do discurso dos sujeitos envolvidos no processo de internação compulsória. A necessidade de abordar a problemática da internação compulsória dessa perspectiva se produziu como um dos resultados da minha pesquisa de mestrado, onde constatei que essas internações estão associadas a certas práticas de desqualificação e invalidação dos discursos produzidos pelos sujeitos internados. Tais práticas que se exercem no campo social, concomitantemente, a um processo de valoração e legitimação de outros discursos, tais como: a medicalização, a psiquiatrização e a judicialização. Assim, através de um ethos de pesquisa marcado pela indignidade de falar pelos outros, desenvolvo nesse trabalho uma discussão a esse respeito, utilizando, para isso, excertos de uma narrativa que foi elaborada com base em uma série de entrevistas realizadas como uma usuária de múltiplas substâncias que ficou internada compulsoriamente por quase dois anos. Nesse sentido, trata-se de uma proposta em que se pretende marcar uma postura política de implicação com o debate sobre a produção das formas de verdade e conhecimento que atravessam nossa sociedade. Do ponto de vista do método, o estudo baseou-se na pesquisa qualitativa de caráter genealógico e cartográfico, sendo tecidas algumas reflexões acerca do material apresentado, apontando-se que o diagrama da internação compulsória, ao se conectar ao dispositivo-drogas, pode ser debatido a partir de uma genealogia dos anormais.