Abstract
Resumo: Na variedade do português falado no estado do Rio Grande do Sul, o pronome de segunda pessoa do singular “tu” ocorre com maior frequência do que o pronome inovador “você”, sendo o “tu” considerado marca da identidade local. No entanto, vem geralmente acompanhado de verbos com a flexão de terceira pessoa, tendo sido sugerido que a utilização da flexão canónica está reservada a momentos de maior formalidade. Este estudo propôs-se a obter dados empíricos acerca da perceção de formalidade dos diferentes pronomes de segunda pessoa do português gaúcho pelos seus falantes nativos, além de estabelecer se consideram o pronome “tu” parte do seu jeito de falar. Uma tarefa de seleção de vocábulos, além de uma tarefa de julgamento de formalidade com uma escala de cinco pontos foram realizadas com 233 participantes. Os resultados confirmam a visão de que o pronome “tu” faz parte da identidade dos falantes e sugerem um sistema triádico, composto, em ordem de formalidade por “tu”, “você” e “o senhor”, acompanhados de morfologia flexional de terceira pessoa, enquanto “tu” com a flexão canónica compete com “você” pela posição intermédia. Dentre os fatores sociolinguísticos que influenciam os julgamentos, somente a idade foi relevante, com os participantes acima de 50 anos de idade tendendo a considerar as frases com “tu” mais informais, independentemente da flexão a ele associada. Palavras-chave: pronomes de segunda pessoa; formalidade; português brasileiro; português gaúcho; sociolinguística. Abstract: In the variety of Portuguese spoken in the Brazilian state of Rio Grande do Sul, the second person singular pronoun “tu” occurs more frequently than the innovative pronoun “você, being “tu” considered a mark of local identity. It is, however, usually followed by verbs conjugated in the third person, having been suggested that the usage of the canonical inflection is reserved to moments of a higher formality level. This study aimed to bring empirical data regarding how formal the different second person pronouns are interpreted by native speakers, as well as data confirming if they consider “tu” as part of their identity. A word selection task and a 5-point scale formality judgement task were conducted with 233 participants. The results confirm the idea that “tu” is part of the speakers’ identity and they also suggest a triadic system, composed, in order of formality by “tu”, “você”, and “o senhor”, all of them followed by a third person inflectional morphology, whereas“tu” followed by the canonical inflection competes with “você” for the intermediate position. Among the sociolinguistic factors that influence such judgments, only age was relevant, since participants who were 50 years old or older tended to consider sentences with “tu” more informal, regardless of the inflection associated to it. Keywords: second person pronouns, formality, Brazilian Portuguese; Gaucho Portuguese, sociolinguistics.