O consumido e o consumado: Apropriações antológicas e inéditas de Borges

Abstract
Selecionar, alterar e editar são atos constitutivos do processo de criação no domínio das artes. Incontáveis são os exemplos de artistas cuja produção apresenta singularidades em relação a essas etapas, e sua prática determina como resultado o seu próprio estilo, o que o diferencia dos demais. Expoente da arte de se apropriar de narrativas clássicas para construir a sua obra, escolhendo delas partes nucleares, Jorge Luis Borges figura neste ensaio com sete contos inéditos em língua portuguesa, nos quais suas tramas se mostram compostas de fragmentos de histórias míticas de tradição greco-romana, reelaboradas pelo seu talento ficcional, ratificando-o como um dos pioneiros da técnica de escrita não-criativa. O procedimento de “corta e cola” não se restringiu, em seu caso, à camada superficial do texto, mas deslizou para a micro e macro-estrutura de suas narrativas. Além de sua “contribuição” para essa corrente literária que se alimenta mais estreitamente dos intertextos como matéria-prima primordial de seu fazer, realçamos também nesse contexto o tema da tradução como transcriação, reapropriação e co-autoria, abrindo discussão acerca da inautenticidade da arte não apenas no contemporâneo digital, mas em sua própria genealogia.