Que corpo é esse? Literatura negra surda, interseccionalidades e violências

Abstract
Os últimos anos foram marcados pelo crescimento notável da produção artística/poética em língua de sinais, com a presença cada vez mais efetiva de poetas slamers na cena nacional. O efeito mais direto disso é a vitrinização das interseccionalidade que atravessam as múltiplas identidades surdas, expostas tanto nas performances síncronas das apresentações nos slams, de forma presencial ou virtual, quanto na poesia.doc. A poesia Boneca Invisível utiliza elementos cinematográficos para potencializar sua narrativa e discutir os efeitos mais diretos da violência sofrida por ela (e por muitas outras mulheres surdas, confiscando a atenção do espectador, para reflexão: até quando a cultura do silenciamento imposta às mulheres surdas servirá de “banquete” para que os mais diversos tipos de violência sejam “degustados” sem o menor constrangimento? Este artigo baseia-se na análise da narrativa vídica exposta no poema, visando tencionar algumas dimensões importantes para pensarmos no lugar interseccional, encruzilha(dor), vivido por tantas mulheres, negras, surdas. Fazemos observações de cunho teórico-epistêmico, do feminismo negro em direção ao feminismo negro surdo, e também de interesse prático, que ocupa-se dos meios de produções que são acessados para a composição da poesia surda, suscitando um alargamento conceitual para abarcar textualidades corporais como produções literárias legítimas, além do reconhecimento técnico das ferramentas acionadas e dominadas pela poeta para sua produção textual literária de denúncia.