Abstract
Ao longo das últimas décadas, o Brasil havia construído a imagem de uma nação emergente e progressista que passava, pouco a pouco, a exercer papel de liderança dentro do cenário político internacional. Neste artigo, efetuamos uma análise de conteúdo das cerimônias dos Jogos Olímpicos do Rio – realizadas em 2012 e em 2016 – revelando suas referências fragmentárias e mitos políticos. Em seguida, as comparamos com o posicionamento do atual governo com relação ao ambientalismo, ao multiculturalismo e à tolerância social. Desta maneira, ficou evidente que as representações do Brasil e dos brasileiros, expostas internacionalmente durante o governo Rousseff através das cerimônias olímpicas, diferem profundamente da imagem que o governo Bolsonaro buscou dar ao país a partir dos últimos anos da década de 2010. Apesar dos esforços de consecutivas administrações – sobretudo após a redemocratização, na década de 1980 – para transmitir a imagem de um Brasil emergente e progressista, crises políticas, a recessão econômica e, sobretudo, a vitória de um regime reacionário e antiambientalista nas eleições de 2018 colocaram em xeque tal narrativa nacional romantizada, revelando – internacionalmente e domesticamente – um país de contrastes, em que campos opostos competem pela nação como espaço sociopolítico e objeto simbólico.