Implicaturas escalares como implicaturas de compatibilidade

Abstract
Implicaturas escalares são tradicionalmente definidas como interpretações upper-bound de termos escalares fracos, nas quais estes assumem a máxima força informacional de suas escalas, negando termos mais informativos (e.g. "somente alguns mas não todos") por obra da primeira submáxima de Quantidade de Grice. Aderimos a Noveck & Sperber (2007) que, em sua abordagem baseada na Teoria da Relevância, sugerem ser a maioria dos casos tratados como implicaturas escalares apenas explicaturas de estreitamento conceitual (portanto, nem implicaturas e nem escalares). Porém, ao contrário de Noveck & Sperber (2007), acreditamos que nem mesmo negações implicadas, por termos fracos, de termos fortes cuja adequabilidade contextual seja posta em dúvida devam ser consideradas implicaturas escalares. Propomos um modelo de derivação de tais implicaturas que não se sustenta sobre as relações escalares estabelecidas entre os conceitos mas, sim, na compatibilidade percebida pelos interlocutores entre os sentidos comparados. Procuramos demonstrar que nada além de processos de ajuste conceitual por explicatura em conjunção com regras dedutivas de tipo modus ponens seja necessário para extração de implicaturas de compatibilidade. Assim, o modelo proposto é capaz de explicar uma gama de fenômenos pragmáticos mais vasta do que aqueles classificados como implicaturas escalares, recorrendo a princípios comuns à interpretação geral de enunciados e, no caso das inferências dedutivas, também à interpretação de estímulos não-linguísticos.