DEMOCRACIA, CIDADE E ESPAÇOS DE PODER EM ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ, DE JOSÉ SARAMAGO

Abstract
O principal objetivo deste artigo é analisar as relações estabelecidas entre espaço e poder no romance Ensaio sobre a lucidez, do escritor português José Saramago, tendo como foco de observação o regime democrático delineado na obra. Lançado no ano de 2004, o romance acaba por promover uma análise da cidade como locus de poder, além de tecer severas críticas ao estado democrático contemporâneo. De modo geral, no romance é corrente a ideia de que a democracia praticada atualmente pelos governantes funciona mais como um discurso dissimulador do que como uma forma política capaz de atender aos anseios da população. Dessa forma, Saramago busca revelar as bases ideológicas e os interesses políticos existentes por trás de grupos governamentais para os quais a democracia não passa de um subterfúgio. É importante destacar que todas essas questões políticas estão materializadas na tessitura do espaço ficcional, no modo como a cidade é estruturada na narrativa. Para promover a leitura do regime democrático na contemporaneidade, utilizamos como aporte teórico os trabalhos de Denis Rosenfield (2008) e Simone Goyard-Fabre (2003); já para executar a análise da estrutura espacial da obra, recorremos às sistematizações produzidas por Ozíris Borges Filho (2007) e Luis Alberto Brandão (2013). Concluímos que, no interior de um enredo agonal, determinados espaços funcionam como materialização do poder coercitivo e outros como um ato de resistência contra à barbárie.