Abstract
Este trabalho é um estudo sobre dois romances de Paulina Chiziane: O alegre canto da perdiz (2010) e Ventos do apocalipse (1999). Esta pesquisa se fundamenta na tese de que a obra de Chiziane, ao falar de mulher e como mulher, esgaça a ideia de cânone literário quando traz para o centro de seus romances a voz daquelas que foram silenciadas e invisibilizadas, primeiramente pelo poder colonial português e, na sequência, pela estrutura patriarcal, especialmente do sul de Moçambique, lugar onde essa estrutura foi legitimada e incentivada pela dominação colonial. Dessa forma, a autora demonstra, através de seus textos, sua competência em apresentar outras Áfricas desconhecidas, tanto pelo mundo ocidental, quanto pelo próprio mundo patriarcal moçambicano, e problematiza cada um dos espaços em que elas se inserem. Para justificar tal afirmação, buscaram-se elementos que distinguissem a obra da referida autora das demais escritoras moçambicanas. A conclusão depreendida é que Paulina Chiziane utiliza sua escrita, que é um espaço de poder, para reverberar as vozes das inúmeras mulheres moçambicanas. As narrativas carregam consigo as dores e reflexões femininas que, por séculos, foram ignoradas e silenciadas pela sociedade patriarcal moçambicana. É assim que O alegre canto da perdiz traz a história de Moçambique sob a dominação colonial, mas relida pelo olhar feminino. Em Ventos do apocalipse a mesma releitura acontece, mas agora ela se dá sobre os conflitos desencadeados pela guerra civil que assolou o país após o processo de independência. Além dos aspectos citados, esta pesquisa pretende se constituir como um trabalho no campo das Literaturas Africanas, capaz de contribuir para implementação da Lei Federal 10.639/03 no ensino brasileiro, visto que ainda há carência de trabalhos acadêmicos que abordem tais estudos.