Autoritarismo e esperança: costurando fios entre Paulo Freire e José Cardoso Pires

Abstract
O presente artigo analisa o romance - O Delfim – do escritor português, José Cardoso Pires, a partir de Paulo Freire, considerando os conceitos: autoritarismo, esperança, situação-limite e inédito-viável. O cruzamento entre literatura, filosofia e educação tem possibilitado uma maior compreensão das relações sociais e conflitivas da sociedade, ampliando assim, o espectro de análise e de reflexões. No romance analisado, os moradores de Gafeira - aldeia ficcional em que a história é ambientada - vivem em um estado inerte, sonolento, de tempo imóvel e, até mesmo, opressivo. A ocorrência de um crime, muda os rumos da história e altera a ordem das relações sociais. Estabelecendo uma metáfora com a lagartixa, o escritor/narrador mostra a impermanência daquilo que parecia consolidado, ou seja, as relações de poder estabelecidas entre a aristocracia e o campesinato se desfazem. Operando com as categorias freirianas: consciência ingênua, opressor/oprimido, e com diversos aspectos abordados no romance, evidencia-se que a organização coletiva e a conscientização dos “desocupados” permitem a superação da condição de oprimidos. A criação da Cooperativa dos Noventa e Oito, é exemplo um concreto disso. O texto demonstra que as obras de Pires e Freire, mesmo com linguagens distintas, experiências diferentes e realidades distantes, elucidam formas de opressão e estruturas de poder, desvelam as máculas, as violências e os abusos por parte das elites.

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