Identidade nacional e exclusão racial

Abstract
Proclama-se, com muita frequência, que, no Brasil não há racismo, porque somos uma sociedade mestiça, fundada, pois, na mistura. Este trabalho pretende mostrar que essa autodescrição da cultura brasileira encobre, de fato, um racismo profundamente arraigado na formação social brasileira, porque a mistura não prescinde da existência de triagens, ou seja, há elementos que não são aceitos na mistura. Analisando romances do século XIX que defendiam os ideais abolicionistas ou que vergastavam os preconceitos contra os mulatos, revela-se que eles contêm, em sua organização semântica de base, ideias racistas. A defesa dos ideais abolicionistas e o combate ao preconceito contra os mulatos não significam o acolhimento dos valores da negritude dentro da concepção de mistura com que se pensa a nação brasileira. O branqueamento, considerado uma melhoria da conformação racial brasileira, deixa subentendido que nossa sociedade se organizou sobre as bases da exclusão e não da participação racial.