Branca de Neve, de Lídia Jorge: sobre mulheres e princesas

Abstract
Este artigo faz uma leitura intertextual da personagem Maria da Graça, do conto “Branca de Neve”, de Lídia Jorge, com a Branca de Neve do conto de fadas “Branca de Neve e os Sete Anões” dos Irmãos Grimm. Como suporte teórico, recorremos as relações dos contos de fadas com a psicanalise e a uma interface com os estudos de gênero. No conto clássico, a personagem principal e uma jovem, frágil, que “necessita” da proteção masculina, e injustiçada pela madrasta, mulher ciumenta e invejosa, mas forte e empoderada. Já Maria da Graça possui os dois lados do feminino dos contos de fadas: e forte, independente e ambiciosa como a “bruxa”, e inocente como a “princesa”, posto que não malda a atitude dos meninos que a seguem e, assim como Branca de Neve, ao se ver só, precisa lutar pela sobrevivência. A primeira conta com o apoio dos anões, enquanto a segunda e lesada pelos meninos, os “anões”. Em crônica de 2020, Lídia Jorge reflete sobre a importância de expor condições de desigualdade, violência e outras situações que inferiorizam as mulheres e ressalta a urgência dessa discussão, considerando que “a luta feminista e uma questão de equilíbrio para a humanidade”. O intertexto aqui abordado faz pensar nos desafios de Maria da Graça para ser bem-sucedida e que, como tantas mulheres “de carne e osso”, e independente e se estabelece com segurança num ambiente historicamente marcado pela predominância masculina. No entanto, ela não está isenta da violência, física ou simbólica, que espreita em cada canto.