Abstract
A Febre Maculosa (FM) é uma doença causada por bactérias do gênero Rickettsia, transmitidas principalmente por carrapatos. Com cenários ecoepidemiológicos variados no país, é a principal doença transmitida por carrapatos para humanos no Brasil e o Estado de Minas Gerais é o terceiro em números de casos da doença. Conhecer os aspectos de transmissão da doença no Estado, auxilia no entendimento do seu comportamento e traz melhores estratégias de prevenção, controle e conscientização da população, gerando melhores estratégias preventivas ao serviço de saúde. Com o objetivo de aprofundar a interpretação das informações epidemiológicas dos casos de FM em MG à luz dos registros ocorridos entre 2007 e 2019, foi realizado um estudo epidemiológico descritivo a partir de dados presentes no SINAN. A análise de dados foi realizada utilizando linguagem de programação Python, biblioteca Pandas e confecção de mapas pelo Qgis. Foram realizadas análises moleculares para identificação do bioagente em amostras biológicas coletadas pelo Sistema de Vigilância Epidemiológica de MG, resultante de investigação de caso. Dos 298 casos confirmados de FM em MG, 98 evoluíram para óbito, o número de casos aumentou a partir de 2011 e o cenário da doença apresentou uma letalidade de 32,8 %. Do total de casos, 207 (69,4 %) eram do sexo masculino, e entre homens e mulheres a letalidade foi maior no grupo masculino 60,46%. A faixa etária mais atingida é a de 30 à 59 anos e a maior parte dos pacientes relatou ter tido contato com animais como carrapato, capivara e animais domésticos. Não foram observados óbitos na região de Cerrado do Estado e os casos estão concentrados em áreas com cobertura artificial do solo, caracterizando a urbanização da doença. Os resultados corroboram com estudos em áreas de casos graves no Brasil. Apesar dos relatos de casos de FM para o Bioma Cerrado em MG, as análises evidenciam que os casos graves ocorrem em áreas antropizadas dos biomas Mata Atlântica e em área de transição entre este e o Cerrado. Estudos multidisciplinares complexos, longitudinais, associados à ecoepidemiologia, devem ser realizados na busca da construção de algorítimos capazes de predizer, no tempo e espaço, os fatores de riscos associados aos casos graves e óbitos por FM, buscando evitar sua ampliação.